segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

DIFERENÇA ENTRE POEMA E POESIA?

“Como presença consciente no mundo, não posso escapar à responsabilidade ética no meu mover-me no mundo.” (Paulo Freire. Pedagogia da autonomia)

a. O que essas palavras significam?

b. Há poesia nas palavras de Paulo Freire? Por quê?

1. Desenhem o contorno de um ser humano no caderno. Dentro desse contorno escreva uma palavra que melhor traduza a sua identidade.

Fernando Pessoa, que viveu no século XX, ajuda-nos a entender ainda melhor o que é poesia e prosa. Vamos ler um poema chamado “Contemplo o lago mudo”.
Nome esquisito, não? É que o poeta não deu nome ao poema, então, quando isso acontece, nós nos referimos ao poema pelo primeiro verso dele.

2. Leia o poema:
Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.

O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo.
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?
(Fernando Pessoa)

• Compare o desenho feito por você com a palavra escrita no meio da figura humana com o poema: há semelhanças? Quais?

Reparou como o que importa para o poeta não é o que acontece no lago, mas aquilo que o eu - poético sentiu quando viu o lago? A poesia lírica se preocupa principalmente com o mundo interior do eu que escreve o poema: o poeta. O mundo que está em volta do poeta: as coisas, as pessoas, a sociedade e os acontecimentos históricos, nada disso representam o elemento principal do poema, posto que o mais importante em um poema lírico é aquilo que está disposto no mundo interior do poeta e que mexe com o mundo exterior. As coisas que acontecem no mundo exterior funcionam como um empurrão para que o poeta escreva.
No poema, as palavras carregam-se de significações. Cada verso é feito de pura poesia. Muitos confundem poesia e poema.

Poema é um gênero específico de texto, cuja definição não é fácil. Poema é um texto repleto de poesia. Poesia é beleza feita realidade e presente na obra de arte: seja em um poema ou em um quadro ou, até, em um belo pôr-do-sol.

Muitas vezes o leitor encontra em uma palavra do poema uma pluralidade de sentidos que valorizam o plano artístico do texto. Os sentidos plurais das palavras no poema se completam e enriquecem as diferentes leituras realizadas.

3. Observe: “Contemplo o lago mudo”
A que classe gramatical pertencem as palavras “lago” e “mudo”?

No verso “contemplo o lago mudo”, o adjetivo “mudo” pode referir-se tanto ao lago como ao eu-poético. A essa pequena confusão de sentidos chamamos de ambigüidade.

Tanto pode ser o “eu” que está mudo enquanto contempla o lago, como pode ser o lago que emudece enquanto o “eu” poético o contempla.

4. No caso de ser o lago que está mudo, identifique outro verso em que o poeta usou do mesmo recurso expressivo:
a. O lago nada me diz,
b. Não sei se penso em tudo
c. Não sei se sou feliz
d. Trêmulos vincos risonhos
e. Por que fiz eu dos sonhos

Que diferença faria para todo o poema se ao invés de “mudo”, o eu-lírico tivesse escolhido outro adjetivo?

Por exemplo: Contemplo o lago agitado
Contemplo o lago calmo
Contemplo o lago estranho
As palavras têm corpo, peso, expressão. Não é a mesma coisa dizer algo de uma forma ou de outra.
A personificação do lago transforma-o em confidente do poeta. Como se fosse um companheiro compartilhando de um momento difícil que o poeta está passando. A ambigüidade permite, no poema, uma riqueza de interpretações.
Em que sentido poderia o lago estar mudo? E o eu-poético, por que estaria mudo? Esses dois sentidos se opõem ou se completam?
O poeta questiona a sua identidade e o fato de haver construído a sua vida de sonhos. O lago também está imóvel, parado. De certa forma, o lago mudo se identificaria com a vida parada do eu-poético. Há momentos em que pode ser doloroso dar-se conta que a nossa vida não foi ação, mas ficou parada, perdida nos sonhos, como se fosse um lago de águas paradas. O jogo entre “eu” mudo e lago mudo, presente no primeiro verso, reforça esse sentido de leitura que construímos.
5. Podemos trocar o substantivo ( Contemplo o mar mudo) ou o verbo ( Olho o lago mudo). Faça o exercício seguinte trocando o substantivo (temos de trocar todo o texto):
a. O rato roeu a roupa do rei de Roma.

O gato.........................................................................
b. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.
Mais vale um cachorro......................................................

c. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
Ouro...................................................................................

É claro que nem todo poema é tão reflexivo como esse que acabamos de ler. No texto lírico existem certas palavras que nos fazem pensar em um antes e um depois, como na narrativa. Porém, no poema lírico, a história para contar não é o mais importante, o mais importante é o sentimento do poeta trabalhando por meio da palavra. Muitas vezes o poeta se isola dos acontecimentos do mundo. Ele se tranca em um universo que é só seu. Em outras ocasiões são justamente as mudanças que ocorrem à sua volta, no mundo exterior, que o empurram a escrever.

6. VOCÊ GOSTARIA DE SER POETA?

Bertolt Brecht, poeta que produziu o texto abaixo, apresenta uma lista de coisas que o deixam feliz. Pela enumeração de acontecimentos, objetos, pessoas, sensações, sentimentos, atividades, o poeta diz o que é felicidade. Vamos ler? Após ler, crie o seu poema.
PRAZERES
O primeiro olhar da janela de manhã
O velho livro de novo encontrado
Rostos animados
Neve, o mudar das estações
O jornal
O cão
A dialética
Tomar ducha, nadar
Velha música
Sapatos cômodos
Compreender
Música nova
Escrever, plantar
Viajar, cantar
Ser amável.
(B. Brecht. Poemas e canções.)

2 comentários:

  1. toma no cu porra , cade a resposta

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  2. creio que entendi: o poema tem o conteúdo mais extenso na qual se expressa os valores reais transformados. poesia é uma expressão fictícia que se traduz pelos sentimentos da alma no estado de momento. Fiquei feliz porque isso irá me ajudar.

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