domingo, 27 de junho de 2010

MUNDO DA IMAGINAÇÃO

Era uma noite chuvosa. Todos saíram.
Ficara sozinha. O telefone toca. Alguém do outro lado da linha diz:
- Você está só? Esperei tanto por este momento...
A voz parecia meio afeminada, mas ficara em dúvida.
- Sim, quer dizer, não. Meu marido dorme.
Mentiu. Estava só. Corre-lhe um calafrio pela espinha. Lembrara do que sempre dizia às filhas se alguém lhes fizesse tal pergunta. A voz insiste:
- Você mente, sei que está sozinha. Vi a hora em que todos saíram.
Ela fica em pânico. Pensa em tudo de ruim. Vem a sua mente imagens daquele filme horrível. Imagina que viveria situação parecida. Pensa até que alguém já está dentro de sua casa e liga de um telefone celular.
As pernas falham. Não as sente mais. Não consegue sair do lugar. Tenta disfarçar o medo, e num esforço subumano...
- Sim, todos, menos meu marido que está meio adoentado.
- Mentirosa, ele foi o primeiro a sair. Eu vi.
Ela não consegue mais falar. Desliga o telefone. Ele toca de novo. Não atende. Toca o celular. Não atende. Toca o outro telefone. Não atende. De repente, todos tocam ao mesmo tempo, os três. Ela já não consegue mais se mover. Seria seu fim? Morreria?!
Começam a passar pela sua mente cenas de sua vida. Momentos bons, ruins, momentos de desespero, de angústia, de perda, de paixão, de felicidade, de muita tristeza...
Já não estava mais ali, na poltrona. Viajava no mundo da imaginação. Não sofria mais. Relembrava cenas de sua vida morna. Pensava em tudo que poderia ter feito e não fez. Tudo que poderia ter sido – e não foi. Por medo, covardia... De quanto poderia ter sido feliz... Quanta vez renunciava a vida para satisfazer caprichos de outras pessoas, para não desestruturar seu lar, para fazer os outros felizes. Nada conhecia ainda. Nem o mar.
Apesar de corajosa, valente, “independente”, era submissa, como toda mulher. Teria valido a pena a sua vida? Por que teve tanto medo de ser feliz? Mas... Agora era tarde demais.
Alguém lhe toca os ombros.

Mariluci Braz Gomes Correia, membro  do grupo experimental da academia araçatubensede letras.

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