segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O QUE MAIS ME ABORRECE?

O que mais me aborrece não é o trânsito louco da cidade,
Nem histórias sem sentido,
Ou alguma falsidade.
O que mais me aborrece não é uma chuva inesperada,
Ou acordar durante a noite,
E não ter sono toda madrugada.
O que mais me aborrece não são as noites sem lua cheia,
Ou jamais ter ouvido esse tão falado,
Canto das sereias.
O que mais me aborrece não é mulher que fala mascando chiclete,
Ou essa queda livre, em que vive a minha net.
O que mais me aborrece não é nem mesmo a solidão,
Ou tropeçar na calçada e sair rolando pelo chão.
O que mais me aborrece não é ver mulher com os cabelos cortados,
Ou soltar fumaça de cigarro por todos os lados.
O que mais me aborrece não é tomar sopa sem pão,
Ou ficar sem viajar por medo de avião.
O que mais me aborrece, e que também é o meu desencanto;
É ver o impune sorrindo e o justo em denso pranto.


Sílvia Senny, membro do grupo experimental da Academia Araçatubense de Letras.

domingo, 8 de agosto de 2010

DUETO-CANOEIRO


CANOEIRO


Rita Lavoyer

Hoje, as minhas águas estão calmas...
O remo do canoeiro
Minhas rimas não tocou.
Venha! Venha!
Venha canoeiro,
Canoeiro meu amor.
Com o seu remo a minha rima provocar.
Venha!
Altere o curso das minhas entranhas.
Provoque-me maré
Com a sua onda sísmica.
Sem o fluxo fico tão estranha
se a sua canoa
Sobre minhas ondas não está.
Venha! Venha!
Venha canoeiro.
Não faça onda.
A sua canoa vou equilibrar
Com as minhas oscilações.
Agarrar-me-ei em seu remo
Para eu não perder a rima e,
Vai e vem, vai e vem, vai e vem
de rima e remo
deliciar-se todo o gozo
no conforto do meu mar.
Saciada a minha enseada, descanso
No remanso da embarcação
Que o canoeiro me
Deixou amar.

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No bote do amor

José Hamilton Brito

Navegar em calmas águas
deixar livre
as nossas almas...e amar.
Ir no curso do rio.
Ver a beleza da paisagem...
Fazer nascer uma miragem
a de que estás
ali comigo.
Vermos, na tardinha,o pôr do sol
com o dia ameaçando morrer
e
neste quadro de poesia
a mulher que eu queria.
Deus! o que mais a pedir...
Afastar as linhadas e remos
e tudo mais o que temos
... um espaço pra nós dois
e depois
ir e vir com todas as ondas
fisgando-te com o meu anzól
assim
passar a noite contigo
te amando
até novo pôr do sol.
Depois
de ter contigo cada gozo
ver o teu sorriso gostoso
me dizendo: quero mais.
Quando o sono tranquilo
te levar
Eu, teu canoeiro-amante,
não cessarei um instante
de dizer :
Eu nunca vou deixar de te amar

quarta-feira, 14 de julho de 2010

LÍNGUA DE FOGO DO NÃO


Língua de fogo do não

Não se pode escrever o poema.
Os tempos são duros, inflexíveis.
Taciturnos até. Dão “bons dias”
por obrigação e recato.
Não se pode sequer ler o poema.
As pessoas andam cabisbaixas,
Riem à toa – como patetas – e morrem.
Morrem como quem nunca quis nada.
Não se pode nem mesmo pensar o poema.
É proibido.
É indecente o poema.
O poema não produz dividendos. Não distribui lucros. Não faz dormir melhor. O poema não sorri nas campanhas eleitorais.
O poema não gosta de telenovela e nem está preocupado em como estacionar no shopping-center.
O poema não quer ter filhos, se casar e planejar férias anuais. Não tem e nem faz economias.
O poema não deixa e não anota recados.
O poema não investe em ações, não paga imposto de renda e não sabe como se portar à mesa com dignidade e fineza.
O poema não acredita na Previdência Social.
O poema não toma banho todos os dias. Não paga a escola das crianças. Sequer ajuda a financiar os cursos de inglês de que elas tanto precisam para subir na vida.
O poema não tem cartão de crédito e nem religião. Jamais freqüenta bailes de debutantes e nunca foi visto nas festas de Natal da empresa.
O poema não vai ao barzinho da moda.
O poema nunca está no escritório.
O poema não faz visitas sociais. Não tem celular e não confia nas urnas eletrônicas. O poema não está deprimido.
O poema falta às sessões ordinárias da Academia de Letras.
O poema não come todas.
O poema não é tributável. Nem atóxico, inodoro ou inquebrável.
O poema não sabe ficar quietinho.
O poema não pode ser preso.
Nem torturado, morto, estuprado, sequestrado, mutilado, roubado, operado, sodomizado, reeducado, dopado, humilhado, bombardeado, conquistado, saqueado, raptado, ameaçado, multado, eletrocutado, queimado, furado, cegado, crucificado, desmembrado, enforcado, guilhotinado, pisado, garroteado, picado, partido, moído, quebrado, cortado, empalado, frito, cozido, assado, esquecido, vencido, lavado, desintoxicado, trucidado, massacrado, escravizado, humanizado, podado, censurado, amarrado, enganado, corrompido, comprado, convencido, julgado, condenado, apenado, difamado, injuriado, caluniado, desacreditado, distorcido, adulterado, anulado ou apagado.
O poema também não pode ser calado.
O poema é um comilão, um vagabundo, um inútil mesmo.
Isso é o que ele é.
Infame ter de se concentrar para sentir
o pejo de um mundo sem poesia.



Andityas Soares de Moura

sexta-feira, 9 de julho de 2010

VAMU BENHÊ





Estava lá...
Era uma garota de boate.
Não sei a cor...azul , não era.
Sala grande, sem adornos
Nos sofás...homens.
Alguns, cornos.
A saia, mini...o decote, maxi.
Os saltos dos sapatos, altos.
O juízo, baixo...
Na cara, escrito:
Vulgívaga...puta.
Quantos anos? talvez uns vinte.
Passou por mim
sorriu.
“ vamu benhê “
Menina de tranças, não é mais criança...
Estava ali mesmo, fazer o quê...
Os presentes olharam...olhos de fome...
-Seu nome ?
-Deixa pra lá
nem quero saber.
Fui.
Fazia sem emoção.
Contou-me sua história
Origem...escória.
Para todos, um novo dia
Menos para ela.
Esquecida.
Perdida.
No popular...fodida.
Peguei sua mão.
Com elas, fazia carinhos
Que não recebia.
Homem, racinha!
Ah! Só paga ...e adeus.
Sai de mansinho
Mas sensação estranha
me acometeu:
Nessa história de putaria,
acho,
O filho da puta
Sou eu.

Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras.

domingo, 4 de julho de 2010

O palhaço

 Sentado, cabisbaixo e mudo,
está ali o velho palhaço,
a vida lhe foi um aço,
mas, a curtiu passo a passo.

Pensativo, solitario e triste,
volta ao  remoto passado,
nos picadeiros do circo,
so trazia alegria a todos.

Na penumbra de seu quarto
sente como se fosse um parto
as dores lhe saindo do corpo
e a voz feminina dizendo
_ eu parto!

Lhe caem lágrimas doídas,
nunca antes sentidas,
vendo a amada partindo
lhe deixando sem saída!

agarra , da moça: as mãos
implora sua estadia,
e ela sem pena, arredia,
se afasta com ousadia!!!

Marianice Paupitz
coordenadora do Grupo Experimental

Felicidade

Na iris dos olhos teus,
vejo os olhos meus,

em época que distante vai,
via em teus olhos o"aí".
era a minha  dor refletida
no espelho de tua alma!

hoje te alivio o pranto,
que do canto de teus olhos cai,

e deixo o caminho livre,
para a felicidade entrar!

domingo, 27 de junho de 2010

AULA DE PORTUGUÊS

                                       M.T.PIACENTINI




                                      Próclise ou ênclise

O pronome pode ficar antes ou depois do verbo quando houver:

Sujeito explícito antes do verbo:
Ele se manteve / manteve-se irredutível em relação ao divórcio.
William Golding se consagrou/consagrou-se como um mestre em esmiuçar questões complexas da natureza humana.
Desde os dois anos de idade Laís se veste /veste-se sozinha.
Humilhar o vizinho se tornou/tornou-se uma obsessão para Joel.
Por muito tempo aquelas pessoas se debateram/debateram-se com o alcoolismo.

Conjunção coordenativa:
Gostei da festa, porém me despedi/despedi-me cedo.
Tem rompantes, mas se arrepende/arrepende-se depois.
O governador foi taxativo e se estendeu/estendeu-se longamente sobre o assunto.

Preposição antes de verbo no infinitivo:

Nas lojas esportivas encontramos o equipamento ideal para proporcionar-nos/para nos proporcionar uma vida sadia.
Temos satisfação em lhe participar / em participar-lhe a inauguração da fábrica.
Tenho o prazer de lhes falar/falar-lhes sobre a filosofia que norteia nossa instituição.
Obs. Quando o pronome é a/as, o/os, torna-se preferível a ênclise: Conseguido o divórcio, sentiu-se tentada a enganá-lo (em vez de a o enganar) na divisão dos bens. / Tenho o prazer de convidá-los a comparecer ao batismo. / Folgo por sabê-los bem.

Recomendações
Para muitos, trata-se de regras rígidas, mais do que recomendações. Digamos que quem quer redigir com correção e estilo deve cuidar para adotar a próclise nas seguintes situações:
1) Os pronomes indefinidos e relativos e as conjunções subordinativas atraem o pronome átono; para facilitar seu reconhecimento, convém notar que grande parte começa com que:
Eis o livro do qual se falou a noite inteira.
Procuramos quem se interesse por criação de bicho-da-seda.
Quer me arrependa, quer não, irei lá.
O resultado das urnas serviu para mostrar a falácia daqueles que se jactavam de uma força política que lhes permitia tudo.
Sua carreira política começou em 1955, quando se elegeu vereador pelo antigo PTB.
Em sociedade tudo se sabe. / Onde se meteram eles?
2) Também as palavras de valor negativo atraem o pronome átono:
Nada nos afeta tanto quanto o aumento do leite. / Nunca se viu coisa igual.
Não me diga isso para não me aborrecer. / Ninguém os tolera.
Jamais se soube a verdadeira versão dos fatos.
É interessante observar que se a palavra negativa precede um infinitivo não flexionado, o pronome pode vir depois do verbo: Calei para não a magoar. Calei para não magoá-la. / Saí para não os incomodar/para não incomodá-los.
3) Advérbios de um modo geral atraem o pronome átono:
Aqui se faz, aqui se paga. / Agora te reconheço. / Sempre se disse isso.
Lá se foi nosso dinheiro... / Talvez nos encontremos. / Devagar se vai ao longe.
Ele certamente a viu. / Muito nos contaram sobre isso. / Logo se saberá o resultado.

Maria Tereza de Queiróz Piacentini, Catarinense e professora de inglês e portugês.Revisou a Constituição  do Estado de Santa Catarina.